terça-feira, 7 de setembro de 2010

A Itália me chama!




Normélio Dengo em Riomaggiore, Cinque Terre
   Dia 25 mai 2010, terça-feira – A Itália me chama! Na despedida “uma vontade de ficar mais um instante” , um nó na garganta, lágrimas ameaçam rolar e, percebendo que eu não iria agüentar, tratei de me despedir logo... Ficar longe das pessoas que amo, vai ser a parte ruim deste sonho de residir na Itália que agora começo a realizar.
    Porto Alegre – SP – Frankfurt – Munique – Ancona, pela Lufthansa (a empresa que a Varig se mirava), constato que a Varig tinha mais qualidade e glamour.  A travessia foi de Airbus – aquele de dois andares -, porém a cada trecho, um avião menor.
26 mai 2010, quarta-feira - De Munique para a Ancona num velho turbo-hélice barulhento da Air Dolomite (que medo!). O trecho “vintage” foi o mais legal e de melhor serviço, serviram até champanhe, ou melhor, prosecco. Do aeroporto de Ancona fui de ônibus até a estação ferroviária de Ancona Falconara, uns 10 km, e “in treno 45 km fino Civitanova”, costeando as praias do Adriático. Ao entardecer estou na stazione ferroviária. Telefono para Carlo, o assessore que contratei, que me diz para espettare na Pasticceria Romana, davanti la stazione. Lá, hipnotizado pelas tortas e doces, conclui: sarà molto difficile perdere 3 kg, che ho promesso. Regime adiado: atacar!

Civitanova Alta (It)
   Meia hora depois Carlo chega em seu novíssimo Audi A3, (todo o italiano que se preza tem que ter uma bella macchina, que segundo ele, non è sua, pertence a la banca - financiado pelo banco -, e me leva até o alojamento. São apartamentos de 1 e 2 dormitórios - tudo novo e completo –, bem no centro, a 150 metros da praia. Civitanova Marche é uma cidade turística – tamanho de Torres (RS) – (Citanò in dialetto locale) é un comune italiano di 40.400 abitanti della provincia di Macerata nelle Marche. Já na chegada, dá pra ver que é uma bellà città! Além do turismo de veraneio (praia), aqui são fabricados finíssimos sapato (se estivesse aqui alguém que conheço, certamente  iria duplicar a sua coleção de calçados feminino...). É primavera, a temperatura agradável, os dias longos, 21h ainda é dia.
27 mai, quinta-feira – Acordei súbito! Será um terremoto as batidas na porta? É Carlo desesperado, há uma hora tentando me acordar. O fuso horário, de 5 horas a menos em relação ao Brasil, e a viagem de 25 horas, me derrubaram. Pulo da cama! Fazer fotos para os documentos, e iniciar o processo de cidadania. Voltei para casa e dormi o resto do dia. A la note converso com brasileiros que estão nos outros apartamentos, mil dicas, pessoal bem legal.
Civitanova Alta (IT) passeio com os amigos. Malú, Edú, Normélio, Leandro
28 mai, sexta-feira – Correria pelos departamentos para iniciar o processo de cidadania. Carlo corre como um louco, eu estou tranqüilo, afinal foi pra isso que eu o contratei. Eu o sigo que nem um zumbi, meu corpo ainda não se adaptou ao fuso horário, e não sei para que tanta burocracia. No meio da tarde, a convite do Eduardo, um ex-industrial de SP, marido de uma diretora da Globosat (ela trabalha e ele viaja, que coincidência!), almoço preparado por ele: frango com moela, sem igual! (no dia anterior deixou o frango de molho, cozinhou as moelas por duas horas e meia na cerveja). Entrada: berinjelas sem casca ao alho e olho e mozzarella de búfala, temperada com manjericão e óleo. Receita da vó dele. Tudo regado a prosecco. Báh, o paulista é muito bom na cozinha! Me superou de 10 a 5! Comi a mais não poder. Morri de inveja das habilidades culinárias dele. (O frango com moela eu vou fazer prá minha filha, ela vai adorar). Depois do almoço fomos no carro do Eduardo, visitar a parte antiga de Civitanova, chamada Civitanova Alta,em cinco no cinquecento, até que o carrinho deu conta. Irresistível não sacar 500 mil fotos deste borgo medieval, localizada no alto de uma montanha. Na gelateria Annibal Caro, na praça vazia, degustar um gelato, sabor: bacio, incrivelmente tem gosto de beijo mesmo!
 

Happy hour no ap do Edú: Leandro, Edu, Lizi, Felipe, Malú, Normélio
  
 A tardinha happy hour no apto do Eduardo, cada um levou um queijo, vinho, um prosecco e ficamos todos de bate-papo até tarde.   
29 mai, sábado – A ordem é: o vigili (policial do município) vai passar, antes das 18 h para conferir se estamos residindo na Itália. Tutti a posti em seus apartamentos, e esperar. Longa espera... 18 h e nada do tal vigili. Frustrados, vamos todos caminhar pela praia, depois jantar numa pizzaria e retornar para arrumar as malas. Amanhã, as 10 h me transfiro para a Universidade de Camerino. Nas próximas quatro semanas a ordem é estudar italiano.   


Camerino (IT)
 
30 mai, domingo – De van fomos de Civitanova até Camerino.  Os amigos que conheci há poucos dias foram alojados em várias locais da cidade, todos dispersos; assim falarei menos português. Estou alojado num apartamento de dois dormitórios, num quarto sozinho, o outro quarto será ocupado por outros dois estudantes que ainda não conheço. É um prédio enorme (palazzo) com mais de mil anos, no topo da colina. As janelas são bem altas. O prédio está sobre a muralha e daqui a vista é deslumbrante. Vejo o vale e os vilarejos distantes, o silêncio é total, entrei no túnel do tempo e vim parar na idade média. Segurança absoluta, todos dizem que aqui não há o menor perigo... a não ser terremotos!
Camerino, uma antiga cidade pré-romana, com mais de dois mil anos, tem sua arquitetura medieval preservada e é riquíssima em obras arte. Antes da idade média Camerino rivalizava-se com Firenze em esplendor e importância. Suas ruelas são todas muitas estreitas, quase todo o transito é peatonal, quando um carro passa, resta pouco espaço para a gente se afastar. Nos casarões, castelos e palácios milenares, com paredes de pedras muita largas, residem poucos moradores e estudantes, a maior parte são pessoas ligadas a universidade de Camerino, que foi fundada em 1336, (é isso mesmo, quase 700 anos). Tudo aqui é história e silêncio; há pouco comércio, vai-se ao supermercado de ônibus no vale distante, onde ficam os centros comerciais, já que na cidade, no topo da montanha, não há espaço e a universidade ocupa a maioria dos prédios históricos. Para pegar o ônibus é necessário descer a montanha a pé ou de elevador e escadas rolantes. 
 A tarde fomos em pequenos grupos internacionais, organizados ao acaso, descobrir a cidade. Todos se esforçam em usar como linguagem o italiano, mas fala-se numa linguagem que está mais para esperanto do que italiano. Eu estou pegando nojo de espanhol porque, se por um lado estou conseguindo esquecer o português, por outro, só me vem a mente palavras em espanhol. Ninguém merece estar na Itália e a memória idiomática achar que estás na Argentina. 
Camerino: vista do vale do meu ap

Minha turma de aula na Escola Dante Alighieiri em Camerino:
Professor:Giulio Bonacucina
Alunos: Adam Venezia; Claude; Daiane Braz Neri; Daniel; Emilia Cristina Lagioia; Francisco Badarioti; Leandro Verardo; Lizi Dalcomune; Maria Masoni; Maria Fernanda Russo; Nick e Louise Hughes; Normélio Dengo

Camerino a noite, via principal, caminho para a Scuola Dante Alighieri 

Camerino, Bar Central na Praça Central
   A noite, na praça em frente a igreja, festa em homenagem a Nossa Senhora, um padre capuchinho faz mágicas em um palco ao ar livre. As famílias com as crianças admiram o espetáculo, (será que as novelas da Globo não foram vendidas aqui?, pois as pessoas ainda se encantam com algo tão singelo). Depois do mini-show do padre todos se dirigem ao lado da igreja para assistir a queima de fogos de artifício. Ao som de Verdi começa a queima de fogos que, regidos pelo computador, explodem no ritmo da música. Foram mais de 20 minutos de espetáculo pirotécnico, e para encerrar o repertório Aquarela do Brasil; será que foi em homenagem aos estudantes brasileiros que chegaram hoje?!

 
Camerino: fogos de artifício
  31 mai, segunda-feira – Primeiro dia na Escuola Dante Alighieri, recepção dos alunos pela direção e professores, todos muito atenciosos. Eu ansioso para fazer o teste para saber o nível/turma que ficarei. Teste feito, constato que - assim como em português -, sou nulo em gramática italiana. São uns 50 alunos de 14 países, até da Rússia, o Brasil tem a maior representação com 13 estudantes (viva o nossa moeda Real forte). Mais da metade dos alunos são jovens-jovens na faixa dos 20 aos 29 anos, os demais são jovens como eu. O resultado do teste será dado amanhã, só não quero ficar no nível mais baixo, - não posso envergonhar meu nonno que parlava con me quando io era picollo. A tarde visita ao Teatro de Camerino, Palazzo Comunale, e sob o belo teatro às ruínas romanas, depois Cocktail di Benvenuto. Ao final da tarde fui caminhar pelas ruelas medievais de Camerino.

Vale de Camerino visto do meu apartamento

Vista do vale pela janela da Universidade de Camerino
01 jun 2010, terça-feira – Das 9:00 as 13:00 hs, primeira aula de italiano, bem legal! A turma que estou é de 12 alunos, são dos EUA, Austrália, Inglaterra, Brasil, Argentina, México, e Alemanha. Show de babel, mas o professor Giulio Bonacucina é muito competente, fala bem inglês e espanhol. (Reside 6 meses nos EUA onde ensina italiano em Oregon, e 6 meses na Itália; que vida boa! ).  Ah!, quanto ao nível, o nonno não gostou nada: me conformei em ter ficado no nível 1, (a escala: 6 é o máximo, acho que é o nível para quem sabe  bestemare com sotaque italiano ). Assim começo do zero. O intervalo das aulas também é show porque a fala é globalizada, e o ambiente cultural é instigante. (Vou sugerir à diretora que deveríamos ter um curso só de intervalos.) Neste ambiente cultural, desejei que minhas filhas desejem vir para uma temporada aqui; se vierem: bay-bay EUA. 


Foto no dia da festa “Il Ducato in un bicchiere”. A diretora Ana da Scuola Dante Alighieir e ao lado Normélio e Henrique,
   Uma funcionária da Escuola me chamou para me entregar uma carta que chegou do Brasil ainda em janeiro. Vinha em um lindo envelope dentro de um outro envelope maior. O envelope maior destinado a um fulano de tal, que não foi localizado entre os alunos, no menor estava endereçado apenas “Para: meu Dengo”. Era uma carta de amor, escrita em português obviamente, onde uma mulher falava da saudade que ela e o seu bambino tinham do namorado/ pai/ aluno.  Daí que a Escuola achou que era eu o Dengo referido no envelope!!! Afirmei com veemência que eu não sou o pai da criança, reafirmo a todos que eu não tenho nada a temer! rsrsrsr!!!
A tarde visita guiada pela diretora aos pontos históricos de Camerino, catedral, palácio do bispo, universidade de Camerino,  e teatro. Os cursos funcionam em salas, dentro de palácios com centenas de anos, mais de 500 anos, onde a arquitetura foi preservada porém foram equipadas com todos os recursos modernos. Depois fui no supermercado Eurospin no vale. Uma dica: prometer fazer regime na Itália é o mesmo que prometer não beber em oktoberfest, é simplesmente impossível. Imagine aqueles produtos italianos que você encontra num super no Brasil, então multiplique a variedade por dez, e os preços mais em conta que no Brasil. Só pra dar uma idéia dos preços: vinho lambrusco 750 ml, R$ 5,00, espumante 750 ml R$ 4,50, massa Barrilla grano duro 500 gr R$ 0,75, yogurt c/frutas 330 ml R$ 1,75, birra 500 ml R$ 1,50.  Molho para massa pronto Barilla 400 gr R$ 2,50, pesto pronto 190 gr R$ 2,50. E viva o Euro cada dia mais fraco!. Frutos do mar e cogumelos são baratos. Paradoxalmente o pão e mais caro do que no Brasil e, duro como uma pedra; os italianos dizem que não é duro, mas crocante! Verduras e frutas são bonitas e deliciosas porém um pouco mais caras que no Brasil. (Nos EUA as frutas são bonitas mas sem gosto).
Em suma, o paraíso do consumo é aqui. Um detalhe: esqueci de levar uma bolsa para o super, paguei Eur 1,00 ou seja, R$ 2,50. Quanto ao lixo doméstico, o mesmo deve ser separado em casa em quatro tipos: papel, úmido, plástico e metais, e vidro. Se colocar o lixo errado, ou no dia errado o lixeiro não leva e aplica multa pesada para a casa, se não puder identificar a casa, a multa é rateada entre as residências da rua. Mesmo depois de recolhido o lixo, se estiver errado, e conseguirem descobrir em algum papel o endereço da casa, aplicam multa.

    Amanhã 2 junho, é feriado nacional na Itália, não haverá aula, faremos a primeira visita das previstas no curso acompanhados pelos professores. Será para  Gubbio, distante 60 km de Camerino; Gubbio é uma antiga cidade medieval – dizem que é a cidade mais bem preservada da Itália -. Nos outros fins de semana, ou a tarde, visitaremos Gubbio, Firenze, Castelo de Caldarola, Roma, Grutas de Frasassi, Loreto, Porto Recanati, Assisi, Perugia, Venezia, Parque Nacional dei Sibilini, San Marino e Urbino, e outras.

Gubbio

2 jun, quarta-feira – Visita a Gubbio. Cedo desci a montanha de Camerino em direção ao estacionamento, pelos elevadores e parte correndo pelas escadas rolantes para pegar um lugar no andar superior do ônibus e assim fotografar a vista da viagem. Obs!. me dei mal: quatro argentinas chegaram antes. Restou a segunda fila. Imagine quatro mulheres falando – como sempre todas ao mesmo tempo – e em castelhano... foi terrível. Além de quebrarem a regra da Scuola de só conversar em italiano, elas estavam desmontando minha estrutura lingüística italiana que eu estava memorizando com muito esforço. Ainda bem que eu trouxe meu aipod, ouço até música breganeja a todo o volume pra não ouvir este bando de gralhas.

Gubbio
Falando do que interessa: Gubbio... Gubbio... é onde São Francisco, filho de um ricaço de Assis, cidade próxima, foi bem recebido porque resolveu ficar nu, devolveu suas  roupas para o seu pai, e tentou fundar uma colônia de ... Ops! não é isso!. Foi onde acolheram São Francisco, o santo ecológico porque ele falava com os animais... Também não é isto!  Gubbio, exatamente neste dia de 2 junho homenageia São Seiláoquê. Milhares de crianças e jovens-jovens se organizam em times, fazem concentração, e saem fantasiados com as cores do seu corso, correndo segurando uma estátua e competindo entre eles pela cidade... Não entendi direito comé que é isto, só sei que parecem meio-loucos. É como se corressem pelas ruas para ver a mulher Samambaia, ou o Gianequini, seminus, por um relâmpago, em algum ponto da cidade; pronto!  Quanto a arquitetura da cidade: sem palavras! Só pelas fotos.


Gubbio, Úmbria, festa em homenagem a Santo Ubaldo
 3 jun, quinta-feira – As aulas de italiano, quase sempre, são na parte da manhã, das 9:00 as 13:00 h. Das 13 até as 16 h tudo fecha, as pessoas vão para suas casas degustar este país, e sei lá o que fazem (com as paisanas), até as 16 h?  O expediente comercial é reaberto as 16 h até as 20 h. Os italianos amam seu modo de vida, sabem saboreá-la com calma e piacere.
Invés de "fast fude" e slow food. No final da tarde vão para os bares, onde petiscos e sanduiches são colocados sobre o balcão e são free, pagasse apenas as bebidas. 
         Nesta região do Marche, o interior é pouco conhecido pelos turistas. A tarde fui a uma palestra de divulgação da região, apresentada pela Escuola, no pequeno cine de Camerino (se parece com aquele do filme Cinema Paradiso). O empolgado professor, projetava os slides na penumbra, e falou por uma hora; fiquei ligadão...  nos três primeiros minutos, só acordei quando batiam palmas e convidaram para degustar os vinhos, queijos e salames na Taverna do Noé. Bebi todos, como lembrança guardei o rótulo do melhor vinho que tomei, levemente frisante, tinto, encorpado: Vernaccia di Serrapetrona, produzido na pequena Caldarola – há poucos quilômetros de Camerino – . Fiz a minha parte, estou divulgando.


Jantar com os colegas da Escola Dante Alighieri na Taverna do Noé. Normélio ao fundo e no primeiro plano Fernanda Russo, Lane e Ivson. 
       A noite as opções eram teatro: monólogo de Jane Cox, interpretado por Francesca Fava - free -, ou jantar na Taverna do Noé, com entrada, primo piatto, secondo piatto e, mais uma procissão de piatti, tudo regado ao bom vinho Vernaccia de grátis (jantar por apenas 12 Euros). Em consideração ao Arnaldo, que aprecia teatro, por pouco que não me equivoco e vou ao teatro, optei pelo “duólogo” do jantar, escolha de metade da turma. Tirando a culpa, o jantar foi 10! e terminou com karaoquê. (desculpa Arnaldo, meu paladar é meio tosco e preferiu a arte da culinária toscana). A noitada foi inesquecível, a foto ai abaixo, diz mais que mil palavras.

Prá lá de Bagdá com os amigos Henrique (Argentina), Vicenzo (Brasil) e Adam Venezia (EUA).
 4 jun, sexta-feira – aula pela manhã, e a tarde se recuperando da ressaca da noite anterior. A noite se preparar para viajar cedo amanhã.
  
Aula de italiano na Scuola Dante Alighieiri com o Prof. Giulio Bonacucina
 5 Jun, sábado – Visita guiada pela scuola a Firenze, capital da Toscana. Na véspera, o professor alerta que a cidade é muito cara, aconselhou levar o almoço (lanche), e também sempre solicitar o preço primeiro, senão os fiorentinos “tacam a faca”. Saímos as 6:00 h da manhã de Camerino, chegamos as 9:00 h.  Ao meio-dia me desliguei do grupo e fui visitar o Palazzo Pitti (belíssimo, sem palavras, só pelas fotos), Antes, nos belos jardins do palácio, (Giardino di Boboli, construído em meados de 1500, por vontade da mulher do mais importante dos Médici - já naquele tempo eram elas que mandavam!), em uma colina, fiz meu pic-nic. Enquanto almoçava, da vista se destaca o Palazzo Vecchio, com sua esplendida torre, construído em meados de 1300; o impressionante Duomo di Giotto, construído também na mesma época (para ter uma idéia da magnitude, observe na foto abaixo o tamanhinho das pessoas que estão no alto do duomo). Após as 16 h, cansado de tanto caminhar, faziam 32 ºC, fui visitar o Duomo. Retornamos a Camerino as 18:30 h. Das três vezes que  visitei Firenze, esta foi a que mais aproveitei, apesar de estar cheia de turistas, - quase não se conseguia caminhar pelas ruas -. Deus me livre de Firenze nos meses de alta temporada, especialmente em julho e agosto. Dica: quando for a Firenze encare a fila no “Il Gelato Come Una Volta” na Via Del Campanile, angulo com Via del Oche),  e aprecie o sorvete sabor limão napolitano. Na hora de pagar os 3 Euros do pequeno copo de raspa de gelo com limão, constato que o meu professor tinha razão: Firenze é realmente muito cara! 


Praia em Firenze?
    


Firenze vista dos jardins do Palazzo Pitti


Pelo tamanho das pessoas da prá perceber o quanto o Duomo é enorme!



Firenze: outra vista dos jardins do Palazzo Pitti

6 Jun, domingo – 10 h da manhã, mais um terremoto, são centenas de poderosas motos em competição que passam sob a minha janela. Como as vias do burgo, em alguns pontos, tem apenas 1,80 m de largura e são tortuosas, forçam aos motociclistas passarem devagar, mesmo assim a cidade treme com a barulheira.



Vista noturna da via que conduz da praça principal ao meu apartamento em Camerino
 
  A tarde inicia a festa “Il Ducato in un bicchiere”, em tradução livre: “O Burgo em um copo”. As dezenas de cantinas da região, em barraquinhas, nas três praçinhas medievais, divulgam e vendem seus vinhos. Compra-se um copo pequeno por Eur 5, médio Eur 10, grande Eur 15, em um bornalzinho de tecido, com 7 vales para os vinhos e 3 para as comidas. Comprei o MAIOR, aquele bojudo, para beber o mais que me servirem. As 14:00 hs acho que fui o primeiro a abrir os trabalhos da festa, porque haviam poucas pessoas na praça no início. Nas primeiras bancas, observei quais os vinhos mais caros e estendi o copo..., fiquei com o copo estendido... Só me serviram uma pequeníííííssima amostra, menos de um dedo, lá no fundo da taça. Que decepção! Os queijos e salames então, num pratinho de nada. Mas a festa estava aumentando, os amigos chegando, e o “concerti jazz” a mil. O astral legal, as pessoas elegantes, os amigos circulando pelas ruelas com o sua taça, bebendo e dando dicas sobre os melhores vinhos. Tudo muito tranqüilo, não existe a mínima paranóia com a segurança, não há policiais, não vi pedintes nesta cidadezinha desde que cheguei. Num ambiente assim, as famílias conversam, as crianças brincam, os jovens circulam em pequenos bandos. Os cafés, bares, pubs, muito freqüentados, são aconchegantes e alguns luxuosos, com salas onde as famílias passam horas. Para os italianos os bares e cafés são a extensão da sala de suas casas, e a convivência nos cafés está gravada na cultura, e no seu modus vivendi.  Voltando a festa “Il Ducato in un bicchiere”, como as provas de vinhos não davam pra nada, a alternativa foi comprar vinhos e deliciosos queijos e azeitonas na salumeria da esquina. Eu gosto de vinhos, mas não me considero um enochato, até porque me recuso a pagar mais que R$ 25,00 por uma garrafa de vinho -. Daí que só posso falar de vinhos, digamos “em promoção” -. Aqui na Itália qualquer dono de minifúndio faz o seu vinho. São milhares de pequenos produtores, preços baixíssimos. Na festa provei vinhos relativamente caros, das uvas Sangiovese, Montepulciano, Sagrantino, Bianchello, Cabernet, Vernaccia, e o vinho cotto (licoroso), e... constatei com surpresa: os varietais Cabernet Sauvignon, Malbec, Merlot, Sirah da Argentina e do Chile, e Carmenére (Chile), - e até os bons, porém caros do Brasil -, são muito, mas MUITO, superiores aos da Itália (ao menos os tintos desta região, o Marche), e para o meu gosto de aprendiz de sommelier. (Nos supermercados daqui encontrei vinhos chilenos). Conclusão: sejamos felizes por tantas coisas que o Brasil possui e também por sermos vizinhos dos argentinos e chilenos.
“Il Ducato in un bicchiere”,

Com amigas na festa “Il Ducato in un bicchiere”, Cláudia, Regina, Emília, Lane, Fernanda, Normélio.


Colegas da Scuola Dante na festa “Il Ducato in un bicchiere”. E noite a festa continuou!
      Lá pelas 18 h, no meio da festa enológica, irrompe uma procissão com bispo e padres paramentados, beatas, anjinhos. Silencia a banda de jazz, as conversas nos grupos ficam suspensas, nos pubs ao ar livre a conversa para, silêncio total, até o cortejo passar... e continua a festa até as 23 h.

Procissão durante a festa “Il Ducato in un bicchiere”,
E segue a conversa na língua vínica, dos entusiastas do vinho que usam termos como: buquê, acidez; retrogosto; transparência; aroma; adstringência; equilíbrio; frutas silvestres; encorpado; seco; textura; florado; herbáceo; fragrância; sabor de fruta; aveludado; barril de carvalho; toques; aroma de boca; flatulência; fresco; frescura, viadagem... Chega de enochatices!  
Com amigos na festa Il ducato.
7 Jun, segunda-feira - Eu já sonhei em ter um castelo; não me venha dizer que você também já não sonhou! Sonhar não custa nada. Pois hoje fomos jantar num grande e autêntico castelo, construído há mais de 850 anos. Autêntico mesmo, segundo o meu professor, com sorte, até fantasma pode ser visto no Castello Pallota, no burgo de Caldarola – Macerata, ( www.castellopallotta.it) Nele tudo está conservado, os móveis autênticos, utensílios, roupas, biblioteca com livros escritos a mão, pinturas, carruagens, penicos, enfim tudo. As sucessivas famílias descendentes moravam no castelo até uns 30 anos atrás. A atual família proprietária mora no vilarejo, porem não mais no castelo. Perguntei se são ainda ricos, me responderam que sim, e que só em terras possuem mais de 200 hectares! (200 ha aqui é muita coisa, afinal na Itália só tem minifúndio, quem possui mais de dez hectares é rico). Antes do jantar fomos guiados, em grupo, pelos diversos ambientes do castelo. Lá pela metade da visita, uma colega começou a tossir, a cadência da tosse aumentando, logo passou a expirar, e alto. O professor pediu um copo de água urgente. O administrador e guia do castelo ficou irritado, perguntou se ela estava morrendo. Retiraram-na as pressas da sala. Aquele constrangimento! Visita encurtada e vamos para o jantar. Dica quente: quando sonhar com o teu castelo, sonhe um castelo novinho em folha, sem fantasma e, principalmente, sem ácaros e sem mofo. 
Almoço e jantar são sempre da maneira tradicional: Antipasti (tira-gosto); Primo Piatto (uma massa); Segondo Piatto (uma carne); Contorni (saladas); Dessert (sobremessa); e longos intervalos entre cada prato. Quando os jantares são em grupos, os italianos, são espertos e generosos, servem um secondo Primo Piatto, ou seja, uma segunda massa. Resultado, quando chega o demorado e autêntico Secondo Piatto, que é a base de carne, você já não agüenta mais de tanto comer massa, e acaba por comer só um pouquinho do delicioso Secondo Piatto. Assim foi no castelo.
 Como o vinho é farto e free, depois do jantar, cantare - a escola distribui um livreto com aquelas músicas italianas que as vezes vem a tua cabeça e não saem mais, aquela dos anos 60, 70 e 80, época de ouro da Itália. Dopo, afastasse as mesas e ballare, a música não anima a dança, então o repertório muda para música brasileira (num sotaque muito estranho), samba e Jorge Bem Jor, com: Meu amigo Charlie Brown, e Fio Maravilha, só assim os gringos levantam das cadeiras e a festa fica bem animada.  
    Bateu saudade de casa... Deixo o castelo com música alta, desço as escadas e vou par o centrinho do burgo de Caldarola. No Café Central na pequena praça medieval, peço um gelato, e na agradável noite de primavera, fico assistindo os jovens jogarem prato, em frente ao bar. As famílias, e os jovens em suas lambretas, assistem a improvisada brincadeira. 

Castello Pallota, no burgo de Caldarola – Macerata
 8 Jun, terça-feira Notti Bianche Universitarie: em Camerino, por três noites: Concerti, Rock Contest, StudentExpo, Artistidistrada, Jazz, Teatro, Dj on The Road, Zelig, Rock and Stock 6, Unicorti, Mimos. (sei lá o que é tudo isso?!). Os shows programados para terminar a meia-noite, avançam pelo burgo, os vizinhos reclamam, chamam a polícia; acaba o show. Amanhã continua o show.
9 Jun, quarta-feira Idem Notti Bianche. Eu aproveito para lavar minhas roupas e botar o apartamento em ordem. Amanhã haverá fiscalização para saber se está limpo e organizado. Que falta faz minha secretária do lar para me auxiliar a fazer comida, e demais atividades... tanto que se na próxima São Paulo Fashion Week  surgir a moda de usar camisas sem passar, saibam que fui eu que lancei aqui na Europa. Também me toma um tempão cozinhar quase todos os dias, almoçar fora é demorado, não existe self-service. Bom, assim conheço e aprendo a usar os deliciosos ingredientes da culinária italiana.  
10 Jun, quinta-feira Visita a Loreto e Portorecanati. Na enorme igreja de Nossa Senhora de Loreto, lotada, uma multidão ouvia um padre italiano, que escreveu vários livros, e com o qual Nossa Senhora se comunica, segundo ele!!  Dentro da igreja está remontada, há vários séculos, a casa que era a residência de Maria na Palestina, antes de ser Nossa Senhora, e que foi trazida pelos templários. A tarde, fomos para a praia em Portorecanati. A faixa de areia é na verdade de pedrinhas, todas muito chatas, parecem pequenas e grandes moedas. Dá a impressão que a gente está caminhando dentro da caixa forte do Tio Patinhas. A praia é muito calma, a cidade também. Os jovens-jovens, os jovens com seus netos, os pais e mães com seus filhos, ficam zanzando de bicicleta, no enorme calçadão.
A noite, em Camerino, continua os shows da terceira e última Notti Bianche.

Praia Due Sorelle, próximo de Civitanova Marche (IT)
   11 jun, sexta-feira - A tarde palestra na scuola sobre a obra de Dante Alighieri. Tri-legal a obra do Dante. Na real, acho que ele puxou um fuminho para conseguir imaginar tanta coisa ao escrever A Divina Comédia.
12 jun, sábado – Visita guiada para Assisi e Perugia. Viagem belíssima, acesse o link para as fotos mais abaixo.   

Assisi
 13 jun, domingo – Fico de molho em casa. Estudar para o teste de metade do curso de italiano na Scuola.
14 jun, segunda–feira – O teste não foi difícil, mas os verbos irregulares italianos são tão incompreensíveis quanto os mistérios da fé, só decorando.  
A noite torcer pela Itália contra o Paraguai, vesti a camiseta da squadra Azzurra, e na calçada em frente a Taverna do Noé, em Camerino, na mesa reservada para os brasileiros, torci e pulei na hora do gol de empate da seleção italiana. Surpresa: meus futuros concidadãos - legítimos italianos – nessuno portava a camisa da azzura, niente de decoração. Nas mesas próximas eles jantavam quietos e preocupados, as vezes comiam um pedaço de queijo, outras  um pedaço das unhas, tudo regado a cerveja e vinho. Na hora do gol do empate sequer pularam da cadeira. São italianos ou são germânicos?!!! Assim não tem graça torcer por eles. Amanhã, tem jogo do Brasil contra a fraca Coreia do Norte, e junto com meus patrícios brasileiros vamos fazer Camerino tremer.
15 jun, terça–feira – A tarde visita guiada aos Montes Sibillinos e a cidade de Norcia, onde nasceu São Benedito. A noite, com outros brasileiros, reunimo-nos para torcer pelo Brasil contra a Coreia do Norte. Primeiro tempo decepcionante 0 x 0. O jogo de estréia do Brasil na copa finalizou em 2 x 1; não convenceu.

O Parque  Nacional dei Monti Sibillini, ao fundo o povoado Castelluccio di Norcia.
Parque  Nacional dei Monti Sibillini

Norcia
 
Na gruta de Frasassi

Gruta de Frasassi
16 jun, quarta-feira – Tema de aula: Escreva uma breve carta aos amigos e descreva teu apartamento (Scrivi una breve lettera ad amici i descrivi Il tuo appartamento), então compartilho meu primeiro texto escrito em italiano (com a correção do professor Giulio, é claro):
“Caros amigos,
  Estou aqui em Camerino por quatro semanas para aprender italiano.  Eu resido em um apartamento alugado, a poucos metros da escola. Da janela da sala a vista é muito bonita, faço o café-da-manhã admirando o vale distante, vejo pequenas cidades, casas de campo, pastagens, parreirais, tudo emoldurado por altas montanhas.       
 O apartamento é de dois dormitórios. Eu ocupo um, o outro é ocupado por dois colegas argentinos. Eles são “gente fina”; um deles lembra mais um monge tibetano porque medita duas horas por dia, antes de dormir e depois de acordar. Quanto eu cheguei, na primeira noite, tomei um baita susto, eu vi do corredor, na penumbra, um Buda sobre a sua cama, eu pensei que fosse um fantasma, - até porque o prédio onde moro tem mais de mil anos, - depois de angustiantes minutos, percebi que era ele meditando. O outro argentino Henrique, é professor de português, e há dois anos perdeu parte da memória repentinamente, por estresse. Depois disso, ele se esqueceu que é argentino, por sorte, agora acredita ser brasileiro. Está sempre de bom humor e todas as noites sai a passear pelos poucos bares da cidade. Já é amigo de infância dos taverneiros.
Todos somos muito colaborativos e vivemos em harmonia. Para se comunicar, o “portunhol” é proibido, é permitido somente o uso da língua italiana.    
     Dopo tutto, viviamo in armonia.
Tanti Cari saluti!
  Normélio Dengo
                                     
(Em italiano):  Cari amici,
  Sono qui a Camernino per quattro settimane per imparare italiano. Io abito in un appartamento in affitto a pochi metri dalla scuola. Dalla finestra del soggiorno la vista è molto bella, faccio la colazione ammirando la valle lontano, vedo piccole città, dei villini, i pascoli, i vigneti, tutto incorniciato da alte montagne.
  Nell'appartamento ci sono due camere. Io occupo una, l'altra è occupata da due colleghi argentini. Loro sono “gente fina”; uno di loro sembra più un monaco tibetano perché medita per tre ore al giorno, prima di dormire e dopo  alzato. Quando io sono arrivato qui, la prima notte, ho preso un brutto spavento, ho visto del corridoio, nella penombra,  un Budda sul letto, ho pensato che fosse un fantasma, - anche perché il palazzo dove abito ha più di mille anni,-  dopo angoscianti minuti, ho visto che lui stava meditando. L'altro argentino Henrique, è professore di portoghese, due anni fa, ha perso parte della memoria improvisamente, da stress. Dopo di quello, lui  ha dimenticato che é argentino, per fortuna, adesso si crede brasiliano. Sta sempre di buon umore e tutte le notti va in giro per la città. Tutti sono molti collaborativi e viviamo in armonia. Per comunicare, lo “portonholo” è proibito, è consentito solo l'uso della lingua italiana.
     Dopo tutto, viviamo in armonia.
   Tanti Cari saluti!
  Normélio Dengo

17 jun, quinta-feira – Os dias estão passando velozes, de manhã aulas e a tarde temas e viagens. A Escuola Dante Alighieri é excelente. Os professores são ótimos, a Direção dá uma atenção especial e personalizada a todos. Recomendo a Scuola, vale a pena mesmo!
Amanhã visitaremos a mais antiga república do mundo, San Marino, e no domingo Roma.


Piazza Navona, ao fundo bandeira no Palazzo Pamphili, sede da Embaixada Brasileira dm Roma

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